03/12/2020

O Ibovespa acumulou em novembro a maior alta percentual para o mês desde 1999, voltando a patamares próximos de fevereiro. E a XP Investimentos acredita que o otimismo não vai parar por aí. Se o índice chegou próximo de 112 mil pontos no pregão da quarta-feira (2), Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP acredita que a bolsa tem força para chegar até 125 mil pontos no ano que vem.

Além da eleição de Joe Biden (e uma transição de poder aparentemente tranquila) com Congresso equilibrado entre republicanos e democratas, investidores comemoram o noticiário promissor de vacinas contra a Covid-19 prevalecendo sobre o avanço de casos em todo o mundo. 

Mas essa tendência de alta será seguida em todos os mercados de maneira igual? Em entrevista ao CNN Brasil Business, Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP, adota discurso otimista, mas não descarta descolamento da bolsa brasileira caso o aperto fiscal não seja endereçado. 

"Mesmo com o rali de novembro, o Ibovespa ainda tem bastante espaço para crescer", diz. "Enquanto as empresas de tecnologia e varejo tiveram alta gigantesca na pandemia, outros setores caíram até 80%. Agora os investidores voltaram a entrar nestes segmentos que tinham ficado para trás."

Nesse contexto, as ações de companhias aéreas e do setor de turismo foram os principais destaques positivo no período, com Azul (AZUL4), Gol (GOLL4) e CVC Brasil (CVCB3) acumulando valorizações de 69%, 50% e 48,5%, respectivamente, em novembro. 

Logo, até as empresas que há pouco tempo eram consideradas de alto risco estão se tornando boas (e sólidas) oportunidades. Não por acaso, a corretora projeta que o índice alcance os 115 mil pontos nos próximos três meses e 124,5 mil pontos até o final de 2021. Algumas ações, no entanto, se destacam frente as outras.

"Petrobras (PETR3 e PETR4), Vale (VALE3) e bancos são as melhores ações hoje na bolsa", diz.

Apesar disso, reconhece que o mercado está "esticado", ou seja, cresceu muito e muito rápido. Com isso, é possível que enfrentemos um momento de correção, o que o gestor considera saudável.

Varejo em baixa?

Na outra ponta do Ibovespa, varejistas associadas a comércio eletrônico experimentaram acomodação nos preços, após altas expressivas desde o começo da pandemia, com a disparada das vendas online na esteira de medidas de restrições para tentar controlar a disseminação da doença.

Magazine Luiza (MGLU3) termina o mês com queda acumulada de 5,1%, embora em 2020 ainda contabilize um ganho de 96,4%. B2W (BTOW3) acumulou declínio de 6,4%, enquanto Via Varejo (VVAR3) conseguiu encerrar no azul, mas ainda assim com performance pior que a do Ibovespa, subindo 3,4%.

Ferreira atenta, no entanto, que estas empresas não se tornaram investimentos ruins por conta dessa realização por parte dos investidores.

"Isso não quer dizer, de maneira nenhuma, que essas empresas não valem investimento. Não sabemos como ficarão os hábitos das pessoas e dificilmente tudo voltará a ser como antes", opina.

Além da rotação setorial, o analista cita outro grande fator que colaborou para o rebote da bolsa: o retorno dos investidores estrangeiros. Este ingresso foi de R$ 31,5 bi no período, maior subida desde o início da série histórica, em 1995.

"Eles estavam com exposição muito baixa ao mercado brasileiro por conta da crise. Agora, com perspectivas positivas, estão voltando para ativos mais arriscados", diz. "O Brasil tinha a pior bolsa e o pior câmbio do mundo este ano, então isso foi bom. Mas ainda tem muito dinheiro para vir.”

Cenários

Para Ferreira, o câmbio é algo que o país precisa prestar atenção. Ele entende que o ambiente se torna ruim para importadores, exportadores e até empresas multinacionais que pretendem investir no país, mas decidem segurar o processo à espera de um momento mais oportuno.

Ainda sobre o dólar, a XP entende que o valor justo da nossa moeda "está mais perto dos R$ 5 do que dos R$ 6". Com isso, economistas projetam o câmbio a R$ 4,95 no final de 2021. "Mas isso requer equilíbrio interno, qualquer desarranjo no país e isso volta a subir", afirma.

E não é muito difícil descobrir quais seriam estes desacertos: Orçamento, PEC emergencial do teto de gastos, reformas. "Tenho um pouco de dificuldade para enxergar cenário negativo no curto prazo. Mas pode ser que o Brasil se descole do otimismo externo se não conseguir resolver seus problemas fiscais."

Crise em quatro tempos

O gestor divide a crise, em termos de mercado, em quatro fases, começando pelo momento de esperança vivido entre o final de 2019 e o início de 2020, quando o Ibovespa alcançou sua maior pontuação da história. A coisa começou a desandar em fevereiro, enquanto o novo coronavírus se espalhava pelo mundo.

A segunda fase, de pânico, ocorreu entre março e abril. "Incertezas, circuit breakers, cura para o coronavírus distante, duração dos lockdowns. Só não foi pior porque os BCs agiram rápido e acalmou o mercado. Foram mais de US$ 20 tri em pacotes, o equivalente a mais de 23% do PIB global", diz.

Depois disso, seguiu-se um período de incertezas, com fatores como a segunda onda de infecções e o avanço das vacinas impactando o ambiente. No Brasil, a situação foi ainda pior, já que, além das crises de saúde e econômica, vivenciamos graves problemas políticos em Brasília.

Agora, com as eleições americanas liquidadas e as vacinas cada vez mais perto, as perspectivas voltam a melhorar.

(*Com informações da Reuters)

Fonte: cnnbrasil